segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Entrevista a Madalena D'Orey

Olá a todos :)

Na semana passada tivemos a oportunidade de ver a nossa entrevista colocada no blogue da forum estudante. Eis o link e a entrevista:
http://www.forum.pt/escolas/area-projecto/450-um-exemplo-de-vida


Aqui fica a entrevista com Madalena d’ Orey, ex-doente oncológica que tem vindo a desenvolver diversas acções conjuntamente com a Associação Acreditar. Para conhecerem um pouco melhor a história de vida desta grande senhora, basta consultar o site da revista Selecções (http://www.seleccoes.pt/article/14527).


Nós - Olá Madalena! Desde já, felicitá-la pela enorme coragem que tem tido ao longo da sua vida, perante problemas oncológicos. Com que idade se deparou com um problema dessa natureza? Que impacto teve a doença na sua infância e adolescência.
Madalena - Olá. O cancro apareceu quando eu tinha 9 anos. Mal foi diagnosticado, comecei a fazer tratamentos de quimioterapia, radioterapia e cirurgia. Estes tratamentos e idas frequentes ao hospital tiveram um período de dois anos. Como é natural, toda a minha doença teve um impacto na minha adolescência e numa altura em que pensamos nas nossas brincadeiras, amigos e programinhas, obrigatoriamente muitos destes pensamentos passavam para um segundo plano porque o meu objectivo era arranjar forças para sobreviver!


Nós - Enquanto submetia-se aos tratamentos que eram necessários, teve dificuldades em interagir com a sociedade? Sempre foi bem tratada ou sentia-se como alguém diferente no mundo?
Madalena - Sempre fui uma criança feliz. Penso que o mais difícil foi o estar careca e para que os outros não percebessem usava cabeleira, mas havia sempre gente má que me via sem cabelo e que me perguntava o que é que se estava a passar. Isto acontecia principalmente na escola. No entanto, tinha a minha irmã, que é um ano mais velha, a olhar por estas situações que me facilitava bastante. De resto, antes pelo contrário, era muito mimada por toda a gente. Foi bom e importante.


Nós - Ao lermos a sua história, na revista Selecções, apercebemo-nos que continua a manter uma forte ligação com a doença. Porquê é que decidiu manter uma ligação, sabendo que poderia ficar emocionalmente afectada com as histórias que lhe aparecessem?
Madalena - Sempre me questionei o porquê de eu ter sobrevivido a esta doença que era tão grave. Depois de uma grande amiga ter morrido, passados dois anos de tratamento em conjunto comigo, eu sempre disse para mim mesma – “se eu fiquei viva por algum motivo foi e um dos motivos foi para ajudar crianças com estes problemas e as suas famílias. Dar-lhes força e esperança que é o melhor que podemos fazer nestas alturas. Dizer-lhes – “ eu também tive um cancro e estou bem..” Os momentos de alegria são imensos e de sofrimento quando morre alguém também, mas tenho por lema pensar que “ainda bem que estive com aquela criança e lhe proporcionei momentos diferentes”.

Nós - De que forma se encontra envolvida na felicidade das crianças com problemas oncológicos? Como consegue fazer sorrir, ou ainda melhor, vencer o estigma de serem diferentes perante tudo e todos?
Madalena - É muito simples. Basta dizer-lhes que eu também tive um cancro e mostrar-lhes algumas fotografias que elas ficam logo diferentes. Falam sobre os seus medos, os seus sonhos e partilhamos sentimentos em comum porque falamos a mesma linguagem.


Nós - Nunca se questionou acerca do “ porquê” de haver tantas crianças que perdem a sua infância perante estes problemas?
Madalena - Sim claro, muitas vezes. Mas cheguei à conclusão que quando aparece um cancro numa criança ninguém tem culpa. Tenho uma fé enorme e acredito que Deus tem um plano para cada um de nós. Não tenho outra explicação senão acreditar que existe uma vida para além desta e que todos estes anjinhos que morreram estão a olhar por nós. Isto é uma tarefa difícil acreditem…
Nós - Qual foi, até hoje, a história que mais lhe marcou?
Madalena - Tantas. Todas as crianças que conheci e que conheço marcaram-me. Hoje tenho um grupo de grandes amigas, todas ex-doentes de cancro, que consegui ajudar enquanto estiveram em tratamentos. Umas já são médicas, outras enfermeiras…enfim somos um grupo grande. A morte da Alina a primeira menina que conheci e que acompanhei muito de perto, uma vez que estava sozinha em Portugal, marcou-me de uma maneira especial. Eu fui de férias uma semana e ela estava mal. No dia em que regressei fui logo ter com ela e com os olhos muito abertos disse-me “ainda bem que chegaste porque já estou muito cansada”. Ficamos todo o dia a falar e ao final do dia ela morreu. Em paz vos garanto!

Nós - Qual o seu maior desejo, para estas crianças e o que esperaria mais e melhor da sociedade?
Madalena - Que todas estas crianças se curassem. Adorava que a sociedade, principalmente os órgãos governamentais, tivessem mais atenção a crianças com cancro. São terríveis as condições de que os pais e estas crianças beneficiam acreditem… podem consultar a legislação e vão perceber o sofrimento e as dificuldades financeiras que todas estas famílias estão submetidas ao longo de todo o processo de doença que, às vezes, pode durar muitos anos.


Nós -
Para finalizar, em que aspecto é que as Escolas podiam colaborar para integrar melhor as crianças e adolescentes, face aos problemas oncológicos, que afectam cada vez mais pessoas?
Madalena - Penso que as escolas deveriam estar sensibilizadas para que a partir dos 18 anos todos dessem sangue. Penso que isto tem a ver com educação. Deveríamos crescer com este pressuposto. Todos os jovens sabem que aos 18 anos podem tirar carta condução certo? Então vamos também transmitir que é um dever serem dadores de sangue.

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