Os estudos consultados evidenciaram que a dieta tem um papel fundamental tanto na potenciação como na prevenção deste tipo de cancro.
O consumo de carne, especialmente carne vermelha e processada, assim como de sal são um factor acrescido de risco, que quando somado à infecção por H. pylori, podem levar a carcinogénese.
Por outro lado, alimentos ricos em antioxidantes como os vegetais ou frutas (principalmente frescas), já provaram ser eficazes na prevenção do cancro do estômago.
Sendo Portugal tão afectado por esta doença, torna-se cada vez mais imperioso, tomar consciência dos cuidados a ter ao nível de uma dieta equilibrada, usufruindo da grande variedade de vegetais e frutas existente no nosso país.
Prevalência do cancro do estômago
O cancro do estômago é o quarto tipo de doença oncológica mais prevalente e a segunda maior causa de morte relacionada com o cancro em todo o mundo [1]. É estimado que ocorrem 650.000 mortes e 880.000 novos casos deste tipo de cancro por ano, sendo que dois terços ocorrem em países em desenvolvimento.
Portugal está entre os dez países com maior número de cancros do estômago e, infelizmente, o número de casos não tem diminuído significativamente nos últimos anos.
O Japão, Chile e Portugal são alguns dos países onde a incidência da patologia é maior. Isto porque há, em média nestes países, 29 mortes por cada 100 000 pessoas em cada ano.Em contraste, nos Estados Unidos, Reino Unido, França e Alemanha, há apenas cerca de três mortes em 100 000 pessoas por ano devido ao cancro do estômago.
Esta doença oncológica afecta mais homens que mulheres e tende a surgir após a quinta década de vida.
Helicobacter pylori
A incidência de infecção por esta bactéria é bastante maior nos países em desenvolvimento do que nos países desenvolvidos, provavelmente devido às piores condições sanitárias e de higiene. Surpreendentemente, em Portugal, a percentagem de infecção é semelhante à dos países em desenvolvimento.
O cancro do estômago está frequentemente associado à infecção por H. pylori (70-90%), sendo que se determinou que a presença desta bactéria confere um aumento de seis vezes no risco de contrair esta patologia.
A título de exemplo, o Japão, que é o país com maior incidência de cancro do estômago, é também um dos países em que a infecção por H. pylori é maior.
Tendo em conta os estudos epidemiológicos que mostram a associação entre a H. pylori e o cancro do estômago, a Organização Mundial de Saúde (OMS) considerou a H. pylori como um carcinogéneo do grupo I (como o tabaco).
Alimentos promotores da carcinogé-nese em indivíduos com h. Pylori
Um caso interessante de analisar é o continente africano onde a H. pylori está presente em 90% da população, mas os casos de cancro no estômago são muito raros.
Estes dados permitem-nos pensar que existem outros factores que podem actuar de forma sinérgica com a H. pylori. Entre os alimentos que se acredita estarem envolvidos na promoção da carcinogénese do estômago em indivíduos com esta bactéria estão as carnes vermelhas e processadas e também alimentos salgados ou o consumo do próprio sal.
Um estudo [2] promovido pelo EPIC (European Prospective Investigation Into Câncer and Nutrition) tentou relacionar o consumo total de carne, assim como de carne processada (salsichas, bacon...) e carne vermelha, com o risco de cancro do estômago.
Os resultados mostraram que quanto maior o consumo de carne vermelha, processada ou o consumo total, maior era o risco de desenvolvimento de cancro do estômago.
Os pacientes que estavam infectados por H. pylori apresentaram uma maior proporção de adenocarcinomas em todos os casos. Isto comprova, mais uma vez, que há uma relação próxima entre a H. pylori e o desenvolvimento de cancro.
Os mecanismos envolvidos na relação entre o consumo de carne, infecção por H. pylori e o risco de cancro do estômago ainda não são completamente conhecidos. No entanto, sabe-se que a carne vermelha é uma fonte de ferro e tem sido sugerido que esse elemento seja um factor de crescimento essencial para a H. pylori.